Introdução
O trabalho visa esclarecer o leitor acerca da anorexia e bulimia o que são, causas, factores de risco; e tem também o testemunho de uma “ex-anoréctica e bulímica”, no qual compreendemos a mentalidade dos doentes com estes distúrbios alimentares, bem como as estratégias por eles utilizadas para perder peso.
Anorexia e bulimia
A anorexia, que traduzido à letra significa “perda de apetite” é um distúrbio alimentar caracterizado por uma dieta alimentar rígida e insuficiente (caracterizando-se em baixo peso corporal). É uma doença complexa, envolvendo componentes psicológicos, fisiológicos e sociais. A bulimia, também um distúrbio alimentar, é caracterizada por episódios de consumo compulsivo de comida e vómito provocado, associado a uma perda de controlo sobre a ingestão de alimentos. Tanto na anorexia como na bulimia, verifica-se uma preocupação obsessiva com a imagem corporal e o peso, que pode ser justificada pela percepção distorcida da imagem do próprio corpo.
Os principais sinais e sintomas da anorexia são em grande parte iguais aos da bulimia. Em ambas as doenças, para além do medo de engordar, nas mulheres os períodos menstruais tornam-se irregulares ou mesmo inexistentes (amenorreia). Na anorexia verifica-se uma grande restrição da alimentação diária e uma prática excessiva de exercício físico, que se reflectirá ao longo do tempo numa perda excessiva de peso. Já na bulimia, ocorrem episódios de ingestão compulsiva de alimentos, que são seguidos pelo vómito. Ainda que os alimentos sejam expulsos do organismo, ainda ocorre absorção de calorias dos alimentos, pelo que os bulímicos tendem a manter o peso normal.
Estes distúrbios alimentares têm normalmente início na adolescência, mas podem ter início na infância ou, posteriormente, dos 20 aos 40 anos de idade. Existem 10 vezes mais casos de anorexia e bulimia nas mulheres do que nos homens, sendo os mais frequentes em jovens oriundas de meios sócioeconómico-culturais mais elevados. Verificam-se mais vezes em indivíduos com características obsessivas, com tendência para o perfeccionismo intelectual. Frequentemente, outros membros da família já tiveram sintomas semelhantes. A ocorrência de anteriores eventos traumáticos, como rejeição familiar ou abuso físico e/ou sexual, pode ser um factor de risco para desenvolvimento destas doenças. Também a influência dos media, em termos de definições de padrões estéticos baseados na magreza, podem desencadear estas perturbações.
É bastante comum a anorexia e bulimia terem início em vulgares dietas. A situação evolui para anorexia e/ou bulimia quando a dieta obsessiva e a perda de peso subsistem até que a pessoa atinge níveis de peso inferiores aos esperados para a sua idade, perdendo o controlo e capacidade de julgamento sobre a situação.
Entrevista
Para melhor compreender estas doenças, nomeadamente os sentimentos e mentalidade das pessoas com anorexia e bulimia, decidi fazer uma entrevista. Entrevistei uma jovem de 22 anos que lidou com a anorexia, e posterior bulimia, durante a adolescência (dos 16 aos 18 anos) e aceitou responder a algumas questões. Esta jovem optou pelo anonimato, pelo que não vou referir o seu nome na entrevista.
Leonor Quando é que o corpo, o teu corpo, passou a ser um problema?
Anónima Percebi que algo tinha de mudar no meu corpo, quando percebi que a maioria das modelos e cantoras, pelo menos as mais apreciadas pelos rapazes, eram perfeitas em termos de corpo e de rosto. Não me lembro de alguma vez ter gostado do meu corpo. A certa altura, nem conseguia pôr creme hidratante, não queria tocar-me, tocar numa coisa que me repugnava.
L Quando é que te tornaste anoréxica?
A Quando percebi que, fazendo dieta, emagrecia mesmo. Tive de abdicar de muitas coisas na minha alimentação para emagrecer mais rapidamente. O meu pensamento, quando me deitava era: a ver se amanhã não caio em tentação, se não como coisas que me vão engordar. De um momento para o outro, a dieta torna-se o mais importante.
L Um dos problemas das dietas é serem anti-sociais. Os teus relacionamentos ficaram afectados com o decorrer da anorexia?
A Sim. Quando as minhas amigas viam que eu escolhia só uma salada, ficavam quase ofendidas. “Pára de pensar nisso. Agora vais comer uma pizza como nós.” Iam almoçar a sítios onde era difícil resistir…
L Resistir era uma meta para ti?
A A partir de certa altura comecei a sentir-me orgulhosa de mim mesma, poderosa. Sentir que conseguia controlar o meu corpo fazia todo o esforço valer a pena. Estar com as minhas amigas era sempre um desafio: eu estava sempre a ser tentada.
L Como se tivesses um anjo e um diabo, em cada escolha que fazias?
A Exactamente. Às vezes o diabo ganhava (risos). Decidi que só ia sair depois do jantar, tudo para evitar comer. A certa altura, deixei de sair. Nem era porque não queria comer, era por que pensava que ninguém merecia ver uma pessoa tão gorda como eu! Eu pensava “Porque é que vamos sair se ninguém vai olhar para mim? Eu sou a mais gorda e feia de todas.” E afastava-me completamente. Pus de parte muitas pessoas importantes da minha vida.
L Passavas dias sem comer?
A Não. Mas estava sempre a ingerir líquidos: chá verde, água para entreter. Se estava com alguém, dizia “Já comi, mas só para te acompanhar vou beber um sumo.” Assim não dava nas vistas. Comia mais fruta, coisas que não engordassem muito. Via sempre o valor calórico de tudo, e às vezes, à noite, contava quantas tinha consumido durante o dia.
L Como é que passaste da anorexia para a bulimia?
A Depois de ter perdido quase vinte quilos em pouco tempo, começava a tornar-se difícil continuar a dieta, que nesta altura já era muito restrita. Aí comecei a pensar “Passo o dia todo a estudar; tenho direito a comer uma coisinha boa.” Um chocolate, umas batatas fritas. Dou por mim a comprar várias coisas, de comer tudo compulsivamente e de me sentir muito enjoada. Só me ocorreu provocar o vómito para resolver o desconforto. Situações destas aconteciam cada vez mais vezes, e nessas alturas pensava que não prestava porque era fraca e não resistia à tentação. Acabava de comer e ia logo vomitar. Ingeria também chás diuréticos e laxantes. Tinha nojo de mim e não queria deixar aquela comida no meu corpo porque senão ia acordar mais gorda. Acabei mesmo por engordar - em seis meses passei dos 47 para os 65 Kg.
L Comer dava-te prazer?
A O que me dava prazer era vomitar. Era prazer e uma maneira de me maltratar … “Agora tens de pagar por aquilo que fizeste!”. Quando comia arranjava desculpas para sair da mesa como “ir lavar os dentes”. Enquanto estamos a fazer isso (vomitar), puxamos constantemente o autoclismo para que as pessoas do lado não ouçam. Depois de se fazer isto muitas vezes, já não era preciso provocar o vómito. O estômago já rejeitava tudo o que eu comia.
L- Tinhas noção de que estavas doente?
A Tinha noção de que não estava tudo bem. A minha mãe acabou por perceber que eu tinha distúrbios alimentares e tratou de mim.
L- Precisaste de ser internada, ou de apoio psicológico?
A- Infelizmente sim. Estive 3 meses internada, e fui acompanhada por um psiquiatra nessa fase. Depois voltei para casa e ainda não tive nenhuma recaída.
L- Já te sentes completamente bem?
A Ainda tenho complexos com o meu corpo, mas sempre tive. Controlar a minha tendência para comer muito é que é mais difícil. Estou sempre com receio de cair na tentação. Sei que se comer demasiado posso voltar ao ciclo vicioso da bulimia.
Conclusão
A anorexia e bulimia são doenças complexas e actuais, cuja taxa de incidência tem aumentado nos últimos anos. É por isso importante ter conhecimento destas perturbações que actualmente são tão frequentes em jovens da minha faixa etária.
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Bibliografia
A informação contida no trabalho foi obtida através de uma entrevista a uma jovem anónima de 22 anos, e informação retirada dos seguintes sites:
http://www4.fe.uc.pt/fontes/trabalhos/2003001.pdf
http://www.ff.uc.pt/~mccast/nutricao/material/Disturbios_Alimentares.ppt#321,60,Bulimia vs Anorexia
http://portal.alert-online.com/?key=680B3D50093A6A032E510E2D36020C400E2A322A2E4106273B4822515A7C655D
http://www.fct.unl.pt/aluno/gapa/dificuladades-psicologicas-anorexia-e-bulimia
A fotografia da capa foi tirada por mim.
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