José Prudêncio
Escola no Ano Zero
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Leonor Marques
Esquizofrenia - Uma Vida Entre a Ilusão e a Realidade

Projecto de investigação

1. Tema geral: Sentido da vida

2. Tema específico: Esquizofrenia

3. Título: Esquizofrenia – uma vida entre a ilusão e a realidade

4. Pergunta a que o trabalho responde: Como vive um esquizofrénico na sociedade actual, lidando diariamente com a doença?

5. Programa: com base numa entrevista a uma psiquiatra, conhecer melhor a doença (o que é, como se manifesta e como se trata), o dia-a-dia de um indivíduo esquizofrénico, e a sua situação social tendo em conta a sua doença

Leonor Rodrigues Teodoro Amorim Marques

12º 4, nº 13

Estoril, 18 de Novembro de 2009

Introdução

O trabalho visa esclarecer o leitor acerca da doença esquizofrenia, nomeadamente a sua contextualização nos dias de hoje, as diversas formas de manifesto da doença, os tratamentos disponíveis actualmente, o dia-a-dia de um indivíduo esquizofrénico, e a discriminação que sofre na sociedade.

A esquizofrenia nos dias de hoje

O constante aumento de conhecimentos de medicina, aliado aos avanços da tecnologia, permite que a cada dia seja possível a descoberta e desenvolvimento de mais tratamentos e alternativas para os mais diversos problemas de saúde. No entanto, as doenças mentais são ainda bastante enigmáticas para a comunidade científica, dado estarem relacionadas com um órgão cujo funcionamento e organização não é totalmente conhecido – o cérebro. Uma dessas doenças é a esquizofrenia, que afecta um em cada cem indivíduos da população mundial.

Como se manifesta a doença

Um doente esquizofrénico sofre crises, isto é, não apresenta constantemente os sintomas. Ao contrário do que grande parte das pessoas pensa, a esquizofrenia não se manifesta apenas através de alucinações e delírios. Esses são apenas os sintomas do tipo de esquizofrenia mais conhecido – esquizofrenia paranóide.

Existem ainda outros que variam conforme o tipo de esquizofrenia em causa. No caso da esquizofrenia catatónica, verificam-se alterações principalmente a nível corporal (por exemplo, o doente pode ficar quieto sem falar durante um longo período de tempo). Na esquizofrenia diferenciada, observa-se um comportamento desorganizado por parte do esquizofrénico (o doente vive num caos, não consegue organizar a sua vida, tornando-se muitas vezes num sem-abrigo). Nestes casos o doente tem dificuldades até na organização/formulação do seu discurso. Um tipo especial de esquizofrenia é a residual, que se manifesta ocasionalmente passados muitos anos após a primeira crise. Estes sintomas constituem no seu conjunto os chamados sintomas positivos.

Existem ainda os sintomas negativos, que se manifestam em todos os tipos de esquizofrenia, especialmente na esquizofrenia simples (o esquizofrénico apresenta praticamente apenas os sintomas negativos). São eles: dificuldade a nível social (tendência para o isolamento), em demonstrar as emoções (disfuncionamento afectivo) e sentir prazer, etc. Estes sintomas reflectem-se muitas vezes num desinteresse pela vida por parte do doente.

Tratamentos possíveis

Os psiquiatras recorrem a diversas terapêuticas para tratamento da esquizofrenia. A mais utilizada é a terapêutica psicofarmacológica, que consiste num plano de medicação para o doente. Apesar de actuar com grande eficácia nos sintomas positivos da doença, actualmente esta terapêutica não tem qualquer efeito no tratamento dos sintomas negativos.

Ainda assim, existem terapêuticas complementares que podem ajudar tanto ao nível dos sintomas positivos como dos negativos. Uma delas é a psicoeducação, que consiste na explicação da doença ao paciente, por parte do médico, quando este não se encontra numa crise. A compreensão da sua doença irá ajudar o esquizofrénico a lidar melhor com ela. Deve-se também “educar” a família e amigos mais próximos, pois é importante que as pessoas que lidam diariamente com um esquizofrénico percebam a doença e os seus sintomas, e por consequência os comportamentos da pessoa em causa. Uma situação familiar instável em que o doente é criticado e incompreendido pode ser suficiente para causar uma nova recaída.

Nos casos em que o paciente, mesmo com a medicação adequada, continua a ter sintomas positivos (põe exemplo alucinações), recorre-se à terapêutica cognitiva e comportamental, que desenvolve estratégias que permitam uma ao doente levar uma vida relativamente normal, mesmo com os sintomas.

Quando estão hospitalizados, os pacientes podem desenvolver actividades ocupacionais que contribuirão para a recuperação naquela altura. Este conjunto de actividades constitui a terapêutica ocupacional.

O dia-a-dia de um esquizofrénico

Em grande parte dos casos, quando um doente não se encontra em crise e consegue tratar os sintomas com medicação, consegue também levar uma vida relativamente normal.

No entanto, a medicação não trata os sintomas negativos, que se reflectem em peso na vida social e profissional do doente. Isto porque um esquizofrénico tem dificuldade em expressar as suas emoções e tem tendência para o isolamento, o que pode afectar negativamente as relações interpessoais no seu local de trabalho. Para além disto, um emprego gera situações de competitividade, uma pressão social. A perspectiva de desinteresse perante a vida e a dificuldade de expressão que são características de um esquizofrénico, impedi-lo-ão de reagir a estas situações, e por consequência de efectuar um trabalho proveitoso.

É necessário ter ainda em conta que a esquizofrenia, mesmo antes de se manifestar, provoca alterações cognitivas no doente, ocorrem modificações nas capacidades cerebrais. Estas alterações traduzem-se na dificuldade em planear uma acção, ou na capacidade de atenção e de concentração (um esquizofrénico tem sérias dificuldades em pegar num livro e lê-lo até ao fim, porque não consegue manter a sua atenção no que está a ler). A doença debilita certas capacidades do indivíduo, tornando-o inapto para realizar certas acções com tanta eficiência como uma pessoa normal.

Discriminação na sociedade

Em resposta à questão “Os doentes com quem já lidou sofrem discriminação, no seu ambiente de trabalho, por exemplo?”, a psiquiatra Maria João Avelino diz “Infelizmente, sim. Basicamente é aquilo que nós designamos por estigma da doença mental. E não são só os doentes, até as vezes os psiquiatras são estigmatizados! “Tu trabalhas com maluquinhos?! Afasta-te de mim que não quero nada contigo!” (risos)”. Maria João afirma que “Esta exclusão acontece porque só recentemente se sabe mais sobre as doenças psiquiátricas, e que realmente têm base cerebral, têm base genética. Antigamente as pessoas pensavam que estas doenças tinham outras causas como “É bruxedo!”, ou então “É porque se portou mal quando era criança e agora está a pagar por aquilo que fez!”. As pessoas não sabiam o que era. E isso é tão verdade que há situações em que o doente pede “Senhora doutora, não passe a baixa com o papelinho que diz hospital Júlio de Matos” porque já sabe que vai ser discriminado por ter problemas mentais. Uma doença mental é comparável com diabetes. Faz sentido discriminar uma pessoa com diabetes? É óbvio que não. O problema é que a doença psiquiátrica não é “palpável”, digamos assim. E também são encaradas de modo diferente porque a esquizofrenia se reflecte nas atitudes, no modo de estar do indivíduo e a diabetes não. No entanto são ambas doenças crónicas, nenhuma tem cura mas têm ambas tratamento. Felizmente hoje em dia já se sabe mais, as pessoas estão mais informadas, e também é muito importante que toda a gente saiba que toda a gente pode adoecer algum dia com uma doença psiquiátrica. No entanto ainda há bastante exclusão social, as pessoas ainda são olhadas de lado.”

Conclusão

Hoje em dia, apesar dos avanços da medicina, ainda há muito por se descobrir, nomeadamente a nível das doenças mentais. A doença mental esquizofrenia pode manifestar-se de diversas formas, e conforme o tipo de esquizofrenia e sintomas, o doente procede a determinado tipo de tratamento. Se o doente se encontrar numa fase estável da sua vida, pode levar uma vida razoavelmente regular, apesar de condicionada por algumas alterações provocadas pelas doenças. Ainda que hoje se compreenda e aceite melhor os doentes mentais, continua a haver bastante discriminação por parte da sociedade em relação a estes doentes.

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Bibliografia

A informação contida no trabalho foi obtida através de uma entrevista à psiquiatra Maria João Avelino, uma profissional do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Júlio de Matos. A gravação da entrevista está no seguinte ficheiro:

A informação foi complementada com algum material da internet, retirado do seguinte site: http://www.saude-mental.net/esquizofrenia

Leonor Marques
Anorexia e Bulimia
Projecto de investigação

1. Pergunta: O que é a anorexia e bulimia?

2. Projecto: Esclarecer o leitor acerca dos distúrbios alimentares, as suas causas e consequências, a mentalidade de um(a) doente com estes distúrbios alimentares e as “técnicas” utilizadas pelo doente para perder peso.

Leonor Rodrigues Teodoro Amorim Marques

12º 4, nº 13

Estoril, 10 de Dezembro de 2009

Introdução

O trabalho visa esclarecer o leitor acerca da anorexia e bulimia – o que são, causas, factores de risco; e tem também o testemunho de uma “ex-anoréctica e bulímica”, no qual compreendemos a mentalidade dos doentes com estes distúrbios alimentares, bem como as estratégias por eles utilizadas para perder peso.

Anorexia e bulimia

A anorexia, que traduzido à letra significa “perda de apetite” é um distúrbio alimentar caracterizado por uma dieta alimentar rígida e insuficiente (caracterizando-se em baixo peso corporal). É uma doença complexa, envolvendo componentes psicológicos, fisiológicos e sociais. A bulimia, também um distúrbio alimentar, é caracterizada por episódios de consumo compulsivo de comida e vómito provocado, associado a uma perda de controlo sobre a ingestão de alimentos. Tanto na anorexia como na bulimia, verifica-se uma preocupação obsessiva com a imagem corporal e o peso, que pode ser justificada pela percepção distorcida da imagem do próprio corpo.

Os principais sinais e sintomas da anorexia são em grande parte iguais aos da bulimia. Em ambas as doenças, para além do medo de engordar, nas mulheres os períodos menstruais tornam-se irregulares ou mesmo inexistentes (amenorreia). Na anorexia verifica-se uma grande restrição da alimentação diária e uma prática excessiva de exercício físico, que se reflectirá ao longo do tempo numa perda excessiva de peso. Já na bulimia, ocorrem episódios de ingestão compulsiva de alimentos, que são seguidos pelo vómito. Ainda que os alimentos sejam expulsos do organismo, ainda ocorre absorção de calorias dos alimentos, pelo que os bulímicos tendem a manter o peso normal.

Estes distúrbios alimentares têm normalmente início na adolescência, mas podem ter início na infância ou, posteriormente, dos 20 aos 40 anos de idade. Existem 10 vezes mais casos de anorexia e bulimia nas mulheres do que nos homens, sendo os mais frequentes em jovens oriundas de meios sócioeconómico-culturais mais elevados. Verificam-se mais vezes em indivíduos com características obsessivas, com tendência para o perfeccionismo intelectual. Frequentemente, outros membros da família já tiveram sintomas semelhantes. A ocorrência de anteriores eventos traumáticos, como rejeição familiar ou abuso físico e/ou sexual, pode ser um factor de risco para desenvolvimento destas doenças. Também a influência dos media, em termos de definições de padrões estéticos baseados na magreza, podem desencadear estas perturbações.

É bastante comum a anorexia e bulimia terem início em vulgares dietas. A situação evolui para anorexia e/ou bulimia quando a dieta obsessiva e a perda de peso subsistem até que a pessoa atinge níveis de peso inferiores aos esperados para a sua idade, perdendo o controlo e capacidade de julgamento sobre a situação.

Entrevista

Para melhor compreender estas doenças, nomeadamente os sentimentos e mentalidade das pessoas com anorexia e bulimia, decidi fazer uma entrevista. Entrevistei uma jovem de 22 anos que lidou com a anorexia, e posterior bulimia, durante a adolescência (dos 16 aos 18 anos) e aceitou responder a algumas questões. Esta jovem optou pelo anonimato, pelo que não vou referir o seu nome na entrevista.

Leonor – Quando é que o corpo, o teu corpo, passou a ser um problema?

Anónima – Percebi que algo tinha de mudar no meu corpo, quando percebi que a maioria das modelos e cantoras, pelo menos as mais apreciadas pelos rapazes, eram perfeitas em termos de corpo e de rosto. Não me lembro de alguma vez ter gostado do meu corpo. A certa altura, nem conseguia pôr creme hidratante, não queria tocar-me, tocar numa coisa que me repugnava.

L– Quando é que te tornaste anoréxica?

A– Quando percebi que, fazendo dieta, emagrecia mesmo. Tive de abdicar de muitas coisas na minha alimentação para emagrecer mais rapidamente. O meu pensamento, quando me deitava era: a ver se amanhã não caio em tentação, se não como coisas que me vão engordar. De um momento para o outro, a dieta torna-se o mais importante.

L– Um dos problemas das dietas é serem anti-sociais. Os teus relacionamentos ficaram afectados com o decorrer da anorexia?

A– Sim. Quando as minhas amigas viam que eu escolhia só uma salada, ficavam quase ofendidas. “Pára de pensar nisso. Agora vais comer uma pizza como nós.” Iam almoçar a sítios onde era difícil resistir…

L– Resistir era uma meta para ti?

A– A partir de certa altura comecei a sentir-me orgulhosa de mim mesma, poderosa. Sentir que conseguia controlar o meu corpo fazia todo o esforço valer a pena. Estar com as minhas amigas era sempre um desafio: eu estava sempre a ser tentada.

L– Como se tivesses um anjo e um diabo, em cada escolha que fazias?

A– Exactamente. Às vezes o diabo ganhava (risos). Decidi que só ia sair depois do jantar, tudo para evitar comer. A certa altura, deixei de sair. Nem era porque não queria comer, era por que pensava que ninguém merecia ver uma pessoa tão gorda como eu! Eu pensava “Porque é que vamos sair se ninguém vai olhar para mim? Eu sou a mais gorda e feia de todas.” E afastava-me completamente. Pus de parte muitas pessoas importantes da minha vida.

L– Passavas dias sem comer?

A– Não. Mas estava sempre a ingerir líquidos: chá verde, água – para entreter. Se estava com alguém, dizia “Já comi, mas só para te acompanhar vou beber um sumo.” Assim não dava nas vistas. Comia mais fruta, coisas que não engordassem muito. Via sempre o valor calórico de tudo, e às vezes, à noite, contava quantas tinha consumido durante o dia.

L– Como é que passaste da anorexia para a bulimia?

A– Depois de ter perdido quase vinte quilos em pouco tempo, começava a tornar-se difícil continuar a dieta, que nesta altura já era muito restrita. Aí comecei a pensar “Passo o dia todo a estudar; tenho direito a comer uma coisinha boa.” Um chocolate, umas batatas fritas. Dou por mim a comprar várias coisas, de comer tudo compulsivamente e de me sentir muito enjoada. Só me ocorreu provocar o vómito para resolver o desconforto. Situações destas aconteciam cada vez mais vezes, e nessas alturas pensava que não prestava porque era fraca e não resistia à tentação. Acabava de comer e ia logo vomitar. Ingeria também chás diuréticos e laxantes. Tinha nojo de mim e não queria deixar aquela comida no meu corpo porque senão ia acordar mais gorda. Acabei mesmo por engordar - em seis meses passei dos 47 para os 65 Kg.

L– Comer dava-te prazer?

A– O que me dava prazer era vomitar. Era prazer e uma maneira de me maltratar … “Agora tens de pagar por aquilo que fizeste!”. Quando comia arranjava desculpas para sair da mesa como “ir lavar os dentes”. Enquanto estamos a fazer isso (vomitar), puxamos constantemente o autoclismo para que as pessoas do lado não ouçam. Depois de se fazer isto muitas vezes, já não era preciso provocar o vómito. O estômago já rejeitava tudo o que eu comia.

L- Tinhas noção de que estavas doente?

A– Tinha noção de que não estava tudo bem. A minha mãe acabou por perceber que eu tinha distúrbios alimentares e tratou de mim.

L- Precisaste de ser internada, ou de apoio psicológico?

A- Infelizmente sim. Estive 3 meses internada, e fui acompanhada por um psiquiatra nessa fase. Depois voltei para casa e ainda não tive nenhuma recaída.

L- Já te sentes completamente bem?

A– Ainda tenho complexos com o meu corpo, mas sempre tive. Controlar a minha tendência para comer muito é que é mais difícil. Estou sempre com receio de cair na tentação. Sei que se comer demasiado posso voltar ao ciclo vicioso da bulimia.

Conclusão

A anorexia e bulimia são doenças complexas e actuais, cuja taxa de incidência tem aumentado nos últimos anos. É por isso importante ter conhecimento destas perturbações que actualmente são tão frequentes em jovens da minha faixa etária.

7695 Caracteres

Bibliografia

A informação contida no trabalho foi obtida através de uma entrevista a uma jovem anónima de 22 anos, e informação retirada dos seguintes sites:

http://www4.fe.uc.pt/fontes/trabalhos/2003001.pdf

http://www.ff.uc.pt/~mccast/nutricao/material/Disturbios_Alimentares.ppt#321,60,Bulimia vs Anorexia

http://portal.alert-online.com/?key=680B3D50093A6A032E510E2D36020C400E2A322A2E4106273B4822515A7C655D

http://www.fct.unl.pt/aluno/gapa/dificuladades-psicologicas-anorexia-e-bulimia

A fotografia da capa foi tirada por mim.

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Última actualização: 13 de Dezembro de 2009
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