Introdução
A clonagem da ovelha Dolly em 1993 abriu um caminho para a possibilidade de clonar um ser humano. Foi a demonstração que, pela primeira vez, era possível clonar um mamífero, ou seja, produzir uma cópia geneticamente idêntica a partir de uma célula somática diferenciada.
O processo de clonagem reprodutiva
Este processo é iniciado com remoção de um núcleo de uma célula somática do indivíduo original e a posterior colocação num óvulo enucleado, ou seja, sem núcleo. Após a introdução do núcleo no óvulo, esta célula, é introduzida no útero, que serve assim de barriga de aluguer. Se este ovo se desenvolver, dará origem a um ser geneticamente idêntico àquele que inicialmente se retirou um núcleo de uma célula somática.
Neste caso, a grande novidade da clonagem da ovelha Dolly foi a descoberta de uma célula somática de um mamífero, já diferenciada que poderia ser reprogramada e voltar a ser totipotente, podendo dar origem a qualquer tipo de célula.
Clonagem Reprodutiva em Portugal
Em alguns países da União Europeia, como Espanha, Itália ou Grécia, a proibição de investigação sobre a clonagem humana é real, o mesmo não se verifica em Portugal. Assim, teoricamente é possível avançar nos conhecimentos sobre esta técnica, visto que a lei não prevê nenhuma punição para quem realizar a clonagem de um embrião humano, com fins experimentais.
O Porquê da Clonagem Reprodutiva?
Infertilidade, um problema que em Portugal, afecta cerca de cento e vinte mil casais em idade de procriação e que dez mil novos casais por ano tenham problemas de reprodução. Assim, com a possibilidade da clonagem reprodutiva, existe a possibilidade dos casais poderem ter filhos.
Em média, cada pessoa possui dentro de si oito genes defeituosos, sendo que este tipo de genes permite com que as pessoas fiquem doentes mais facilmente. Com a clonagem, estes genes poderiam ser removidos, visto que a criação do novo ser seria calculada e programada pelo ser humano. Podendo haver a hipótese de retirar este tipo de genes, será possível retirar todo o tipo de doenças genéticas, devido ao conhecimento avançado neste ramo da ciência.
A extinção das espécies é outra razão, visto que o ser humano não está a salvo dessa possibilidade. As próprias guerras geradas pelos povos, são um motivo que podem levar à extinção em massa da humanidade, devido às bombas nucleares principalmente. A criação de clones, poderá servir para a própria evolução do conhecimento da clonagem, ou seja, para realizar testes em seres humanos, serão criados clones para testar técnicas, medicamentos ou outro tipo de produtos com risco para a saúde humana.
Uma população de Einsteins
A clonagem reprodutiva poderia levar a uma alteração profunda no banco genético da população mundial. Ao criar um clone com determinadas características este, vai-se reproduzir, disseminando assim as suas características pelas gerações futuras. Dr. Bentley Glass, um geneticista americano afirma ”Well, the old idea was simply to breed from the best individuals but this is always based on their phenotypes of genes we know of and not on their real genotypes, the genes that are there underneath.” Assim, poderia existir uma profunda alteração no código genético humano com fim a aumentar o quociente de inteligência, ficando assim o mundo dotado de génios e de sobredotados, sendo uma forma de evolução mais eficaz e rápida segundo Dr Bentley Glass.
Dolly: um sucesso?
A comunidade científica no geral concluiu que a clonagem da ovelha Dolly por parte de Ian Wilmut teria sido um grande sucesso. Mas será que realmente foi? O que será o sucesso nesta experiência? É necessário ter em conta se tem uma duração de vida normal, se apresenta alguma predisposição para cancro, se reproduz normalmente, se os seus filhos são normais. Mas quantas gerações temos de observar para avaliar o sucesso da experiência, verificando se o clone não comprometeu a vida dos seus netos os bisnetos. Assim, apesar de ter sido um feito histórico na ciência, será cauteloso dizer que foi um enorme sucesso segundo Lygia da Veiga Pereira, professora doutorada do Instituto de Biociências do Departamento de Biologia da Universidade de São Paulo.
Eugenia do Século XXI?
A eugenia, um problema que atravessou o século XX com a ditadura de Hitler e os seus ideais da raça ariana, volta agora a confrontar a humanidade. Ambientalista e escritor americano, Bill Mckibben afirma que “James Watson, pai da revolução do ADN visionou um mundo em que ele afirma que não haverá mais gente estúpida, não existirão mais bebés feios nem pessoas tímidas”. Com o avanço da técnica da clonagem, será possível um casal ir a uma clínica e escolher a cor dos olhos, do cabelo, a altura ou por exemplo as predisposições genéticas para a actividade A, B ou C. Mckibben dá o seguinte exemplo no filme Designer Babies and Gene Robbery: um casal que quer ter um filho pela primeira vez, vai a uma clínica, escolhe as características e todos os desenvolvimentos possíveis, com pontos de quociente de inteligência extra. Passados cinco anos, ao conceber outro filho pelo mesmo método, o primeiro filho será como o Windows 95, muito inferior em termos de capacidade em comparação com o segundo filho.
Andrew Kimbrell, director executivo do Centro Internacional de Tecnologia de Avaliação diz que esta eugenia é mais perigosa do que a prevista por Adolf Hitler devido ao que algumas pessoas pensam da ciência. Visto que uns acreditam na existência de genes do crime, da homossexualidade, da timidez e do alcoolismo, e por isso através da manipulação genética, seriam resolvidos todos os problemas sociais, ao que o advogado americano discorda, visto não haver pesquisas que fundamentem tais afirmações.
Outro facto que torna esta eugenia mais perigosa é por ser vista como “ciência boa”, sendo o oposto do pensamento sobre os planos de Hitlera . São “diferentemente perigosas mas igualmente erradas” segundo Kimbrell.
Ambas representam um ideal de humanidade perfeita através de manipulação genética sendo por isso inseparavelmente comparáveis.
Uma técnica embrionária
É ainda um ramo de descobertas e de inovação. Devido a esse facto, a percentagem de sucesso de reprodução de mamíferos por clonagem é muito baixa. Dentro dos animais clonados, o bezerro é o animal que tem maior percentagem de sucesso, entre 10 e 15%, sendo esse número igualmente reduzido.
“Devemos lembrar que, dos 276 embriões manipulados, somente 29 sobreviveram para serem implantados em ovelhas, e destes somente UM vingou, dando origem à Dolly” afirma Lygia da Veiga Pereira. Se estes testes são feitos em animais, estaremos nós preparados para perder fetos e fetos por todo o mundo, que já depois de alojados no útero, morrem, devido à ineficácia da técnica?
Falta de Consenso
A comunidade científica está repartida em torno desta questão, nem mesmo os apoiantes da clonagem em animais são defensores da clonagem reprodutiva em seres humanos. Ian Wilmut, o “criador” da ovelha Dolly, coloca-se contra a aplicação da técnica em seres humanos afirmando ainda “Os problemas psicológicos de indivíduos clonados seriam intoleráveis”.
Conclusão
Uma questão polémica que não reúne consenso em nenhum ramo das ciências e, por isso, mesmo que a técnica esteja desenvolvida, não será nunca aplicada sem protesto ou indignação. A eugenia é um problema real que não deve ser posto de lado, considerando “eugenia boa”, pois Hitler também a considerava boa quando planeava o predomínio da raça ariana no mundo. Assim, é importante que as investigações não parem mas que não seja para a propagação da espécie, principalmente, sendo esta, um resultado dos gostos de cada um, perdendo a identidade pessoal de cada um dos indivíduos originados.
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